Percepção
É uma faculdade a qual não damos a devida importância, há muito tempo reprimida, pois nos esquecemos de utilizá-la ou simplesmente não damos a devida atenção a ela. Se confiássemos mais em nosso poder de perceber o ambiente que nos cerca e aperfeiçoássemos essa técnica, talvez muitos dos nossos problemas seriam solucionados, inclusive em relação a escolha de um lugar mais adequado para praticar algums atividades como meditar, dormir, estudar, etc.
O ser humano é como um emissor-receptor estamos captando constantemente todas as energias cósmicas, telúricas, as vibrações da luz, calor, diferentes tipos de radiações, eletricidade, etc. E ao mesmo tempo possuímos as nossas próprias emanações energéticas.
Nosso corpo reage e registra por reações neurológicas, as diferentes interferências que sofremos do meio ao qual estamos inseridos a todo o momento. Nós estamos sempre reagindo as mais sutis informações produzidas por fenômenos naturais ou antrópicos, mas não necessariamente registramos de forma consciente esses sinais, somos bombardeados por uma série de informações.
Como tudo possui uma propriedade vibracional, um zahori bem treinado é capaz de sentir as sensações individualmente, percebendo como elas agem em seu corpo e podem identificar a origem daquilo que porventura cause essas alterações.
Assim como os animais de outras especies, nós podemos perceber qualquer mudança no ambiente, afinal também somos animais, só que conscientes, o que pode atrapalhar quando quer se desenvolver uma sensibilidade maior. Estamos acostumados a raciocinar de maneira cartesiana e dentro de um padrão pré-estabelecido pela sociedade, o homem através de sua mente racional muitas vezes bloqueia aquilo que não pode compreender e se fecha a novas experiências. Assim a mente se fecha e trava por que não está acostumada a reconhecer esses padrões energéticos.
Não somos uma ilha isolada, devemos aprender a ver as coisas de forma sistêmica, ou seja, fazemos parte de um todo.
Desenvolver as faculdades sensitivas de percepção das coisas ao nosso redor é uma janela para o auto-descobrimento, liberação e libertação do nosso corpo, mente e espírito, isso nos torna seres mais conscientes em relação a nos mesmos e ao de nosso papel neste mundo.
Para desenvolver as habilidades de percepção corporal, não é só possuirmos treinamento, mas uma mente aberta e um corpo saudável também se faz necessário, para que não fiquemos debilitados com as novas energias que passaremos a perceber. O resultado que deve ser alcançado ao se deparar com essas novas informações que serão recebidas pelo corpo deve ser o mais agradável possível, e desta maneira redescobrir as nossas capacidades. Digo redescobrir, porque na verdade sempre fomos capazes de perceber as energias que nos cercam, só não damos a devida importância e atenção para o que o nosso corpo nos diz.
Os seres vivos interagem o tempo todo com o meio em que vivem, mas para nós, isso muitas vezes passa despercebido no decorrer de nossos dias atribulados e nem ao menos nos damos conta disso. Esquecemos que existe uma interação de interdependência entre tudo, e é ela que sustenta a vida neste planeta.
O homem com o passar dos tempos distanciou-se da natureza e inclusive da sua própria, deixando assim de usar os sentidos, a percepção e a sua intuição.
Os homens ditos primitivos (particularmente acho que de primitivos eles não tinham nada), possuíam uma sensibilidade aguçada, utilizavam meios não racionais e intuitivos, pois disso dependia a sua sobrevivência. Esses homens meio que se fundiam a natureza, pois sabiam que dela faziam parte e viam-se inseridos nela. Esse homem interagia com seu meio através de observações e percepções, como a observação dos astros, para através de seus ciclos delimitar o seu “tempo”; sabia a direção dos ventos, para assim perceber a mudança de temperaturas e chuvas; observava a reação dos animas a determinados locais e assim identificava se aquele lugar era um local ideal para estabelecer sua morada.
O homem de alguma forma através dos tempos foi perdendo essa capacidade, pois cada vez mais nos afastamos do contato com a natureza, passamos a nos ver à parte dela. E agora quando pensamos em natureza pensamos na natureza “verde” e esquecemos que somos seres naturais e que portanto fazemos parte dela. Esse tipo de pensamento faz com que cada vez mais tomemos distância de nossa essência e assim esqueçamos de que como tudo o que existe, fazemos parte de uma coisa só, ou seja, somo todos “pó de estrela”.
Estamos intimamente ligados aos elementos que formam a matéria, os químicos após decompor os blocos básicos primordiais da matéria, chegaram a uma tabela de 118 elementos, cada um dos quais exprime o desejo de unidade de vida. Esses elementos se compõem de prótons, de elétrons, de quarks e do “nada” que há entre eles, que formam a verdadeira fonte de vida. Dado que eles existem tanto dentro como fora do nosso corpo.
As culturas maias chegaram ao ponto de se referir aos seres humanos como “terra animada” e pensando nesses termos, podemos quase ver nossos corpos surgir da terra e, átomo por átomo, transmutar-se em carne e sangue, enquanto os elementos se formam a si mesmos em parcelas do organismo humano.
Partindo desses princípios, fica mais fácil imaginar que tudo está interligado, nossos ossos, músculos, tecidos e a pele se compõem das mesmas substâncias de que é feita a terra. Não só vivemos no corpo de Gaia, mas de certo modo somos parte dela. É importante reconhecer isso e passar a observar o que estamos fazendo ao planeta e a nós mesmos.
Devemos criar a consciência de respeito para com nosso planeta e entender que os locais possuem vida, possuem um espírito. Seria interessante prestarmos mais atenção quando entramos em um local, terreno, floresta e pedir permissão assim como fazem os xamãs e povos indígenas. Ou mesmo o conceito romano de “Genius Loci” ¹, em que se acreditava que os locais possuíam um espírito protetor, ou seja, um espírito do lugar. Assim precisamos, digo até com certa urgência nos reconectarmos com o todo, voltar a utilizar nossa intuição e percepção para “sentir” o que nos cerca e principalmente dar atenção ao que o nosso corpo “diz”.
Nosso corpo é como uma antena cheio de canais (sentidos) que nos conecta ao ambiente. Ampliar nossas percepções ajuda a identificar lugares insalubres e prejudiciais, ajuda a identificarmos se onde estamos nos sentirmos bem ou mal, consequentemente, passamos a identificar se os nossos problemas físicos, emocionais e até os espirituais, possuem alguma relação com o local onde estamos.
1 - Segundo Sérvio, em Vergilii Aeneidos Commentarius ("Comentário à Eneida de Virgílio"), 5, 95, "nullus locus sine Genio" ("nenhum lugar é sem um Gênio").
Texto de Elaine Lopes